Por Camila Vieira
A dramaturgia de O compromisso de Hasan desvela aos poucos o não dito que se forja nas ações de seu protagonista: um homem que herdou as terras do pai e aparentemente tenta arranjar formas lícitas para sobreviver da agricultura. A sequência inicial apresenta a infância do personagem, que revela as circunstâncias do seu vínculo profundo com o terreno herdado. É onde Hasan cultivou durante muito tempo seu pomar que lhe serve de sustento, mas que agora recebe a ameaça de uma grande empresa que deseja se apropriar das terras para a construção de uma torre industrial de energia elétrica.
A tendência inicial seria permanecer ao lado das intenções do personagem. Os empresários querem destruir as plantações, em prol da ampliação do próprio lucro. Hasan tenta convencer a empresa a usar o terreno ao lado que está improdutivo. Ele também procura ouvir outros agricultores da região que pediram empréstimos e precisam vender suas terras por valores irrisórios para pagar dívidas.
De forma gradativa, pequenos acontecimentos surgem como consequências das ações equivocadas do protagonista. Animais aparecem mortos por causa da água contaminada por agrotóxicos que Hasan usa de forma irrefletida em seu pomar. Sua esposa se lamenta por ser dependente dele financeiramente para conseguir fazer a peregrinação à Meca. Ao situar como as decisões de Hasan destruíram as vidas dos menos favorecidos na comunidade e de sua própria família, o longa de Semih Kaplanoğlu instaura um mal estar necessário pelo modo como o individualismo arruina interesses coletivos.
* Visto na programação da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.