Mostra Internacional de Cinema de São Paulo: Notas breves sobre alguns filmes – Parte 2

Por Camila Vieira

I Comete – Um Verão na Córsega (Pascal Tagnati) 

A direção de Pascal Tagnati parece menos interessada na composição de personagens e no modo como eles interagem entre si em I Comete – Um Verão na Córsega, do que em uma certa ambientação a ser capturada de uma experiência de verão na ilha francesa. Jovens conversam entre ruelas onde motocicletas atravessam com rapidez. Os assuntos vão de férias a trabalho. Na beira de uma piscina, garotas falam sobre relacionamentos. Adultos constroem armadilhas para animais e conversam sobre jogos de futebol. Os diálogos são passageiros, como se fosse uma forma de observação à distância. 

A impressão é que o diretor não deseja psicologizar seus personagens, mas tampouco consegue fazer com que as conexões dos corpos em cena produza algo para além de um mero acúmulo de situações ligeiras. Em alguns momentos, o que está sendo dito por um ou outro personagem parece sair do individual para querer dar conta de uma condição estrutural do país, como o comentário sobre a Europa ser dos tecnocratas e dos banqueiros. Mas tudo fica muito aquém de qualquer tentativa de constatação.

O Garoto Mais Bonito do Mundo (Kristina Lindström e Kristian Petri)

Poucos documentários conseguem perspectivar a forma como o fazer cinematográfico pode destruir a vida de pessoas comuns em busca da idealização de uma imagem que será perpetuada como eterna para o público. O Garoto Mais Bonito do Mundo aborda o impacto que a repercussão de Morte em Veneza teve na vida de Björn Andrésen, o ator que ainda adolescente interpretou o belo personagem Tadzio no longa-metragem de Luchino Visconti. A beleza tão almejada pelo diretor italiano não converge em nada com o olhar triste e amargurado de Björn Andrésen em sua rotina atual. 

Em contraposição às imagens dos testes e das viagens de divulgação de Morte em Veneza em que a bela aparência física de Björn foi exaustivamente explorada, os registros cotidianos atuais apresentam um homem já velho, descuidado com a própria vida, perto de ser despejado e inábil com a namorada e com a filha. O filme também escancara que Björn teve sua imagem vendida mundialmente como objeto sexual, enquanto na intimidade sofria com a ausência da mãe e, anos mais tarde, levava uma vida dependente de drogas.

* Vistos na programação da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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