Mostra Internacional de Cinema de São Paulo: Lua Azul (Alina Grigore)

Por Camila Vieira

A primeira cena de Lua Azul anuncia a gradação de violência que Alina Grigore deseja explorar ao longo de seu filme: a protagonista Irina é acordada de forma brusca pela irmã Viki que a sufoca e insiste que ela não conte nada para seu pai que está chegando para uma visita. Filhas de pais divorciados, Irina e Viki moram na casa dos tios e são completamente controladas pelos primos, que as obrigam a trabalhar nos negócios da família. Irina deseja fazer faculdade em Bucareste, mas o pai ausente não entende a escolha dela e o primo mais velho quer que ela continue a fazer a contabilidade da empresa familiar. 

Da mesma forma como tantos outros filmes da Romênia que escancaram a violência e a crise social do país (como é o caso de Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental, de Radu Jude, outro filme na Mostra que já publicamos crítica), o problema de Lua Azul é a necessidade de posicionar exclusivamente o corpo da mulher como receptáculo incondicional da violência. Irina não reage quando o primo a espanca. Quando ela é estuprada por alguém desconhecido na festa, ela até se aproxima dele como se estivesse com Síndrome de Estocolmo. Há tanta passividade e silenciamento em Irina que é por demais desconcertante e incoerente diante de tanta violência que a cerca. 

Talvez com a intenção de não tornar a trama monótona e homogênea demais, a direção de Alina Grigore se serve de uma reviravolta do último terço de Lua Azul: para proteger a irmã Viki que também é vítima das opressões familiares, Irina realiza sua única ação para interromper o ciclo. Com uma câmera que circula em meio aos personagens da família, a penúltima sequência até consegue expressar a vertigem da situação que Irina desencadeia. No entanto, o desfecho acaba por reduzir o filme a tudo o que já foi visto antes. 

* Visto na programação da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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