Por Camila Vieira
O ponto de partida do documentário As Bruxas do Oriente é desmistificar a comparação das ex-jogadoras da seleção de vôlei feminino do Japão com a simbologia das bruxas que alimentam o imaginário popular do país, sobretudo nos desenhos e animes antigos. A figura da bruxa costuma ser associada de forma pejorativa a algo maligno e misterioso. Para desfazer a imagem de que as entrevistadas tinham poderes sobrenaturais indestrutíveis nas quadras, o filme reúne as entrevistadas ao redor de uma mesa de jantar 50 anos depois do período em que elas foram consagradas.
Ao mostrar cenas do cotidiano atual de algumas das ex-jogadoras, elas relembram detalhes da rotina diária de trabalho como operárias da fábrica têxtil Nichibo Kaizuka nos anos 1950, os treinos árduos de vôlei após o expediente e os campeonatos em que elas conquistaram vitórias consecutivas na década de 1960. Cada uma delas é introduzida no filme com uma espécie de etiqueta ilustrada que informa qual era o status, o perfil, a habilidade e o apelido da jogadora na época. O documentário intercala registros atuais das ex-jogadoras que agora já são idosas com imagens de arquivo em que elas aparecem bem jovens como atletas em reportagens da época e registros de partidas e treinos.
O momento mais intenso de As Bruxas do Oriente é uma longa sequência que intercala as imagens das famosas partidas da seleção de vôlei nos jogos olímpicos com suas reconstituições em formato de um anime que se tornou bastante famoso na época em reconhecimento ao desempenho brilhante do time. Em outra sequência, o mesmo paralelo é feito com as cenas dos repetitivos e rígidos treinamentos que elas recebiam. Ao dimensionar o que era exigido delas e como algumas desistiram após a primeira derrota, o documentário é bastante honesto com a trajetória das personagens, sem cair no risco de um resgate romantizado ou idealizado.
* Visto na programação da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.