Mostra Internacional de Cinema de São Paulo: Al Shafaq – Quando o Céu Se Divide

 Por Camila Vieira

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Um pai à procura do filho é o leitmotiv de Al-Shafaq – Quando o Céu se Divide (Al-Shafaq – When Heaven Divides, 2019), da diretora e roteirista turca Esen Isik. Morando na Suíça há anos, o turco Abdullah mantém em casa os costumes de sua cultura de origem, ao mesmo tempo em que se adapta à rotina em território ocidental. Sua esposa e filhos seguem os mesmos preceitos, com exceção de Burak, o caçula, que é o grande pivô de insatisfação do patriarca da família.

Talvez o grande problema do filme seja a construção unidimensional do personagem de Burak. Se de início, o jovem não demonstra interesse em rezar o Alcorão, quer se divertir com colegas ocidentais da mesma idade e não suporta a violência centralizadora do pai, a suposta mudança forçada dele deverá ser como o fundamentalista recrutado a serviço da Guerra Santa na Síria. De uma forma ou de outra, a aparente transformação de Burak não altera absolutamente nada dentro de sua função familiar: ele parece ser apenas uma peça jogada no roteiro para motivar a decepção do pai.

A história de Abdullah em busca de seu filho – que inevitavelmente é encontrado morto – é colocada em paralelo ao drama do menino sírio Malik, que também perdeu o irmão em um campo de refugiados na Síria. Apesar de ser breve, a trama de Malik é desenvolvida de forma mais complexa: sua família é obrigada a migrar de sua residência, mas não consegue escapar da ameaça de soldados bandeiras negras do Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS). Ele consegue sobreviver junto com o irmão, que logo depois também morre em outro ataque.

A narrativa aproxima Abdullah e Malik não só pelo vínculo que existe entre eles e parentes mortos. Enquanto a trama intercala o presente com acontecimentos do passado dos dois personagens, sabe-se que Burak foi recrutado para as ações do ISIS que afetaram diretamente a vida da família de Malik. A amarração esquemática de roteiro que conecta a história dos dois personagens apenas serve a uma agenda humanista forçada que não contribui e nem traz olhares diferenciados para os conflitos no Oriente Médio.

Visto durante a 44a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo – 2020

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