Por Camila Vieira
A estreia do iraniano Panah Panahi na direção de longa-metragem de algum modo é devedora do cinema do seu pai, o veterano Jafar Panahi. No exercício do realismo forjado pela ficção, ambos lançam olhares críticos para o modo como a conjuntura político-social interfere no destino das vidas individuais. Em Pegando a Estrada, uma mãe preocupada, um pai com uma perna engessada, um garoto que cuida de um cachorro doente e o filho mais velho que dirige compõem uma família que atravessa a paisagem desértica de Teerã para chegar até a fronteira com a Turquia.
Não se sabe de imediato o motivo pelo qual os quatro estão fazendo juntos a viagem. As pausas para descansar ou ir ao banheiro podem ser observadas de dentro do próprio carro ou a uma certa distância em que os personagens começam a revelar detalhes. Eles foram instruídos a manter discrição na viagem, sem poder usar o celular. A mãe desconfia estar sendo perseguida e logo desabafa que a família perdeu a casa e o carro para que o filho mais velho pudesse ir embora. O marido diz confiar no atravessador chamado Hoshang.
Na presença do garoto, o casal sustenta a mentira de que a viagem urgente seria justificada pelo casamento do filho mais velho. O jovem está irritado e se chateia por ser tratado pelos pais como se fosse uma criança incapaz de resolver sozinho seus problemas. Uma névoa encobre a paisagem, enquanto um homem encapuzado aparece para dar as primeiras instruções. Mesmo com a certeza de que fugir seja a única saída possível, o destino incerto do filho é tão nebuloso quanto a impossibilidade da despedida.
* Visto na programação da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.