Por Camila Vieira
O problema de No Táxi do Jack, da portuguesa Susana Nobre, é confiar plenamente no possível carisma que seu personagem principal possa sustentar. Joaquim é um senhor na faixa dos 60 anos de idade, que está perto de se aposentar e acumulou em sua trajetória inúmeras experiências de trabalho, em sua maioria precarizados, desde limpar chão de fábrica a dirigir como taxista. Ao longo do filme, a maior parte de suas interações acontecem com funcionários que representam o peso das instituições que exigem procedimentos burocráticos para que o personagem mantenha-se com algum emprego.
Durante as viagens que realiza pela cidade, Joaquim relata sobre seu passado na Inglaterra e nos Estados Unidos, a dificuldade para aprender a falar em inglês, os diferentes empregos provisórios que ocupou, a desconexão com o filho devido a rotina árdua de trabalho, o retorno a Portugal no momento pós-ditadura. É certo que a narrativa demonstra preocupação em aprofundar o personagem como uma subjetividade que se faz pelas diversas condições de trabalho que ele enfrentou ao longo da vida. No entanto, o relato parece apenas dar conta de um amontoado de situações pregressas, sem qualquer pausa reflexiva sobre os efeitos do trabalho.
Como o foco acaba sendo a presença do personagem e sua forma pitoresca de narrar, No Táxi do Jack deriva por algumas brincadeiras cênicas, como aquela em que Joaquim parece estar dirigindo um táxi em uma rua movimentada, mas a câmera recua em um travelling que mostra a filmagem dentro do cenário de um estúdio. Em outro momento, ele conversa com um amigo cego e cadeirante, por meio de diálogos quase sempre jocosos. Nem sempre o humor é alcançado e o filme perde algo no meio do caminho.
* Visto na programação da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.