Mostra Internacional de Cinema de São Paulo: A Taça Partida (Esteban Cabezas)

Por Camila Vieira

Não é novidade alguma encontrar no cinema narrativas que partem de famílias que sofrem as consequências da separação de casais. Dentro deste universo, o diretor chileno Esteban Cabezas propõe uma dramaturgia desconfortável, na medida em que se sustenta pelas ações e intencionalidades do personagem Rodrigo, um homem que não se conforma com a separação e deseja reocupar o espaço perdido a qualquer custo. 

O interesse de Rodrigo não é apenas ver seu filho Julian e ficar algum tempo perto dele. O personagem observa de longe a casa e aguarda a saída de Maxi, o novo companheiro de sua ex-mulher Clara. Só então Rodrigo se aproxima da mulher e, por insistência, consegue que seu filho fique com ele, que foi autorizado apenas a passear no planetário com o garoto, após seu retorno da escola. Ele não cumpre o que foi acordado e, a partir daí, será guiado por suas próprias vontades ressentidas pelo seu ego de macho ferido.

O personagem recusa sair da casa que já não é mais dele e destila sua inveja em relação ao bem-estar familiar que Clara parece ter alcançado. O desconforto avança quando os planos são reenquadrados no formato 4:3, com o intuito de enfatizar a expressividade dos personagens em momentos importantes da narrativa. Por meio das diversas situações em que Rodrigo age contra tudo o que sua ex-mulher solicita, a trama intensifica o desprazer e o horror de aturar um homem adulto que age de forma irresponsável e narcísica.

* Visto na programação da 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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