Vulcão (Rúnar Rúnarsson, 2011)

Por Murilo Lopes

A grande questão, ao meu entender, nos filmes que têm como temática o envelhecimento e a passagem do tempo, é a solidez que o projeto conseguirá demonstrar durante suas poucas centenas de minutos. Sem querer relativizar demais as coisas, atrevo-me a dizer que filmar sobre o coming-of-age de uma criança ou um adolescente é uma situação. Agora, tentar abordar o mesmo tema dentro do universo da “terceira idade” é outra completamente diferente. Era mais ou menos nisso que eu pensava quando fui assistir a Vulcão, primeiro longa metragem do islandês Rúnar Rúnarsson, um diretor de 35 anos com cara de menino.

Em pouco mais de 90 minutos, Rúnarsson conta a história de Hannes, um senhor na casa dos 70 anos que acaba de se aposentar e começa a ter de encarar um pouco mais de perto algumas situações com as quais não está inteiramente confortável, como o fato de não mais ser um “macho provedor”, ter filhos que o veem como um homem frio e ranzinza, ver sua amável esposa sofrer um derrame que a transforma em um vegetal e, ainda, ter seu única verdadeira válvula de escape, no caso, um pequeno barco de pesca, inutilizada.

Rúnarsson consegue se sair surpreendentemente bem ao lidar com questões tão sensíveis justamente por tratá-las com sensibilidade. Ao evitar transformar Hannes em um personagem em busca de algum tipo de “redenção”, ele consegue aproximar o sujeito do espectador e criar um retrato bastante humano de alguém cuja idade Rúnarsson não tem e pela qual, ao menos pelo aspecto de experiência pessoal, ele não tem como apontar caminhos fáceis. O grande trunfo de Rúnarsson não é apenas mostrar que Hannes podia ser aquele seu avô que reclama do almoço e passa o domingo resmungando no sofá. Hannes pode ser você, amanhã. Eu posso ser Hannes amanhã.

Na ótica de Vulcão, as pessoas estão fazendo o que podem e sendo aquilo que elas são. Não existem grandes lições a serem aprendidas e nem grandes redenções a serem alcançadas. Existe a dúvida, existe o sacrifício e existe o imenso vazio que é o futuro, uma grande incógnita que, talvez, se torne cada vez mais sólida e misteriosa com o chegar da velhice e sob os filtros da experiência. Essa contemplação e esse respeito que Rúnarsson possui por seu personagem são a dinâmica principal de um primeiro longa-metragem bem sucedido e de um primeiro passo bem dado por um diretor que, embora jovem e iniciante, já demonstra sinais de uma visão que pode alçá-lo a um patamar respeitável dentro do cinema europeu.

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