EU NÃO SEI: TENHO MEDO – ENTREVISTA COM DÁCIA IBIAPINA

por João Campos

Nesta entrevista originalmente publicada na revista Zagaia, mergulhamos na trajetória de Dácia Ibiapina, cineasta, educadora e uma das fundadoras do histórico Grupo Mel de Abelha, surgido em Teresina na efervescência cultural dos anos 1980. Com uma formação marcada pelo cineclubismo, pela militância cultural e por experiências em instituições como a Escola Internacional de Cinema e TV de San Antonio de Los Baños, em Cuba, Ibiapina compartilha memórias e reflexões sobre sua formação, suas escolhas estéticas, as dificuldades de fazer cinema fora dos grandes centros e a potência coletiva de movimentos culturais como os cineclubes e associações de classe. Neste relato, ela revisita os caminhos que a levaram do Super-8 no Piauí à docência em cinema na Universidade de Brasília, refletindo sobre política, arte, memória e os desafios de se manter fiel a uma prática cinematográfica que pulsa com o desejo de registrar e transformar o mundo.

Queria saber primeiramente da sua formação. Você estudou em Cuba não foi? Como foi isso? E como foi o retorno ao Brasil nesse sentido da formação (não apenas acadêmica)?

Sim. Estive em Cuba, na EICTV, por 06 meses, em 1987. Fiz o Curso Básico. Foi um período intenso de aprendizado e convivência com jovens estudantes e também professores: “de três mundos”, (Américas, África, Ásia), como gostava de dizer Fernando Birri, cineasta argentino que foi o primeiro diretor da EICTV. Eu já era graduada em Engenharia Civil quando fui para Cuba. E já trabalhava na Prefeitura do Campus da UFPI e colaborava com a Coordenação de Assuntos Culturais da Pró-Reitoria de Extensão da UFPI. Houve uma seleção no Brasil e em vários outros países, para a primeira turma da Escola de Cinema e TV de San Antonio de los Baños/Cuba,. Nessa primeira seleção brasileira houve uma ênfase em candidatos do Nordeste. Eu e meu colega do Grupo Mel de Abelha Valderi Duarte fomos selecionados, juntamente com outros colegas de Fortaleza/CE.

A EICTV não tinha nem tem pretensões acadêmicas. Oferece formação técnica e oportunidade de convivência e debates. Eu gostei muito dessa pegada da Escola. Lá tivemos acesso a câmeras, salas de montagem, iluminação, ilha de edição, laboratório de fotografia e de som, ferramentas e insumos de cinema que não era fácil ter acesso no Brasil e muito menos em Teresina-Piauí-Brasil. Trabalhávamos com película e também com vídeo, que estava começando a se firmar como formato de produção audiovisual. Os professores eram excelentes.

Nosso professor de fotografia de cinema, por exemplo, foi Cesar Charlone e nosso professor de montagem foi Nelson Rodríguez Zurbarán, que montou filmes de diretores cubanos como Tomas Gutierrez Alea, Humberto Solas, Santiago Alvarez, dentre outros diretores cubanos e latino- americanos. Ele montou, por exemplo, o filme “Memórias do Subdesenvolvimento”, de Gutierrez Alea. Morreu em Miami, em 12.02.2020, aos 81 anos. Era adorável Nelson Rodríguez. Passei muitas horas com ele na sala de montagem. Ac4h6ava incrível a forma como manejava os copiões em película no corta-e-cola interminável. Era um artesão da montagem e um grande narrador. Ir para a EICTV foi também uma oportunidade de conhecer Cuba, esse país que até hoje desafia o coro capitalistas contentes . Os personagens do filme “Cadê Edson?”contam que quando estavam no presídio Papuda em Brasília, apanhavam, e que seus algozes lhes diziam: “Comunista de merda. Ta pensando que isso aqui é Cuba?”. Quando fui para Cuba já tinha feito “O pagode de Amarante” e trabalhado em outros filmes Super 8 do Grupo Mel de Abelha. Minha formação é cineclubista e curtida no “mel de abelha”. Quando retornei de Cuba, percebi que não conseguiria ir adiante com o cinema em Teresina. Decidi então vir para Brasília.

Poderia nos contar um pouco sobre o grupo Mel de Abelha? O que os levava a fazer filmes naquele momento?

Estudei Engenharia Civil na Universidade Federal do Piauí entre 1977 e 1981. Foi a partir de nossa turma que surgiu o Grupo Mel de Abelha, em 1978. O primeiro filme, “Povo Favela” (1978) foi dirigido por colegas da engenharia: Luís Carlos Salles e Valderi Duarte. Eu não participei da produção desse filme. A partir dessa experiência, novos estudantes se juntaram e foi criado o Grupo Mel de Abelha, com: Dácia Ibiapina, Luís Carlos Salles, Socorro Teixeira, Valderi Duarte e Lorena Rego (estudante de Economia da UFPI). Cabe registrar também a colaboração de Rosemberg Vieira Peixoto, que também fazia parte de nossa turma de Engenharia Civil. A área de interesse dele no cinema era o som. Dentre as muitas referências nossas destaco: o Cineclube Teresinense (a mais importante), o Cine Royal com suas sessões de cinema de arte (sexta-feira, 22hs e reprise no sábado as 10hs); a Coordenação de Assuntos Culturais da Pró-Reitoria de Extensão da UFPI, a Jornada Maranhense de Super 8 ( embrião do Festival Guarnicê de Cinema, então coordenada por Euclides Moreira), a Casa Amarela Euzélio Oliveira em Fortaleza (espaço de extensão da Universidade Federal do Ceará), a Jornada de Cinema da Bahia, que também era promovida pela Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal da Bahia, sob a coordenação do cineasta e professor Guido Araújo.

Por que a gente fez os filmes do Mel de Abelha e o próprio Mel de Abelha? É cruel essa pergunta. Muito difícil de responder sem revisitar memórias e sem cair pro campo das narrativas. Digamos que as razões eram difusas e contraditórias. Havia uma efervescência cultural, boêmia e política nos anos 70 e 80 do século passado, em Teresina e em outras cidades brasileiras, meio inconseqüente, porém mobilizadora. A gente queria participar. Ao mesmo tempo, estávamos ocupados com nosso projeto de ascender socialmente e ganhar visibilidade pela educação. A gente queria um diploma de Engenharia Civil, uma espécie de vingança emocional contra a burguesia local. Não dava pra ser porra louca e estudar engenharia ao mesmo tempo.

Por outro lado, o cinema brasileiro, como a música brasileira, como a cultura e as artes em geral, foram muito importantes na resistência à ditadura militar. A gente queria participar. A gente não sabia tocar, não sabia cantar, não sabia dançar, desenhar, nada. Éramos uns nerds. Eu trabalhava também, para ajudar no projeto familiar de ascensão social. A gente gostava de cinema e então resolvemos ir por aí. Meu pai dizia que o cinema era meu esporte. E reclamava de minha dedicação a ele. “Minha filha, esse seu esporte é de lascar. Você não descansa e não tem tempo para mais nada”. Ele estava certo.

Um amigo me disse que pesquisadores comentam que o Mel de Abelha tinha uma relação com os filmes do Torquato Neto. Isso é real? Se isso for verdade, como se dava essa relação, essa influência? Vocês assistiram, por exemplo, Terror da Vermelha (Torquato Neto, 1972)? O Torquato Neto dizia algo a vocês? Tinha uma interlocução de conversa ou mesmo de influência pelos filmes? Pergunto isso pois essa herança do Torquato Neto no trabalho do Mel de Abelha é comentada em trabalhos acadêmicos e nós nunca vimos ninguém perguntar isso à integrantes do grupo.

Sim. Sentíamos orgulho de freqüentar o mesmo cineclube que ele freqüentou – Cineclube Teresinense. Ficava no Colégio Diocesano de Teresina, onde Torquato Neto estudou na adolescência. Convivemos com amigas e amigos dele, especialmente o quadrinista, fotógrafo e cineasta Arnaldo Albuquerque (1952-2015). Este chegou a fazer filmes Super 8 com Torquato Neto, como por exemplo “Adão e Eva do paraíso ao consumo” (documentário que se perdeu no tempo). Arnaldo fez a câmera em “O terror da vermelha”, dentre outros filmes. Conhecemos também o pessoal da música e da literatura, que também conviveu com Torquato, como Durvalino Couto, Claudete Dias, Viriato Campelo, dentre outros. Não chegamos a conhecer Torquato pessoalmente. Nós éramos as pirralhas e os pirralhos caretas da parada. Brincávamos que esses artistas da geração de Torquato eram os “caetanófilos”. Torquato morreu em 1972 e nós só entramos na universidade em 1977. Eles eram a geração da contracultura piauiense e nós não. A gente fazia Super 8 e estudava muito, tanto a engenharia civil quanto o cinema (que considero também um tipo de engenharia). Sim, Arnaldo Albuquerque era generoso conosco e nos mostrou os filmes que fez com Torquato. Sim. Torquato Neto diz muito para nós, ou pelo menos para mim. Agorinha mesmo, letras de músicas, poemas e fotografias de Torquato Neto enchem minha cabeça. Afinal ele era “O terror da Vermelha”. Vermelha é um bairro antigo de Teresina.

Lá tem uma igreja – Nossa Senhora de Lourdes – onde fica exposta, ou pelo menos ficava, a obra sacra monumental de Mestre Dezinho. Esculturas em madeira hoje reconhecidas nacional e internacionalmente. Li em uma entrevista de Durvalino Couto que Torquato trouxe o super 8 para Teresina e que virou uma febre entre os artistas da cidade. Segundo essa entrevista, Torquato achava que o super 8 era a nova onda, que todo mundo podia fazer, e que um dia todo mundo ia ser cineasta. Premonição.

Os filmes do grupo Mel de Abelha eram em super-8 não é? Como funcionava essa forma de fazer filmes? Como você vê essa diferença entre os filmes de super-8 e os filmes que faz hoje em dia?

Sim. Os filmes do Mel de Abelha foram feitos em Super 8. Em Teresina havia uma loja da Fotóptica onde comprávamos os rolinhos de película super 8. Usávamos uns que vinham com uma fita de som magnética colada na lateral. Nossos filmes eram sonoros. Após expor os negativos utilizando equipamentos super 8 do Cineclube Teresinense, ou de amigos, levávamos na mesma loja e eles seguiam para serem revelados em São Paulo. Quando chegavam as cópias positivas, íamos fazer a montagem. Luís Carlos Salles eram bom em montagem. Era um processo manual, com cortadeira e coladeira. Na coladeira se fazia os cortes e a junção dos takes selecionados com uma fita especial, tipo um rolinho de durex. Dava para agregar uma banda sonora também. Com o tempo e com a grana do crédito educativo, espécie de FIES (Fundo de Financiamento Estudantil) da época, passamos a adquirir nosso próprio equipamento: câmera, projetor, tripé, um ou outro refletor, microfone. Nossa onda era o documentário. Nossos territórios eram geralmente periféricos e nossos personagens eram as pessoas que habitavam esses territórios. Era um trabalho coletivo, onde cada um agregava o que tinha ao processo. Os filmes tinham naturalmente um viés político.

Éramos estudantes da Universidade Federal do Piauí onde tinha um debate político fomentado pelo movimento estudantil, sindical e cultural. Disputa eterna entre PT e PCdoB. A gente não conseguia entender e não dava vontade de participar. E tinha também nossas preferências e referências estéticas. Muitas delas formadas no cineclubismo, pelas festas, e por leituras e estudos que fazíamos. Não estávamos isolados. Promovíamos exibições de filmes super 8 ou 16mm, eventos, mostras temáticas. Viajávamos para São Luís, para a Jornada Maranhense de Super 8, para Fortaleza, para a Bahia. O Nordeste era uma de nossas paixões. Nosso território.

E hoje? Como faço os filmes? As bases estão lá, no Piauí. Foram ampliadas em Cuba. E foram consolidadas em Brasília. Vim para a UnB, em 1989, dois anos após o retorno de Cuba. Vim para fazer mestrado. E, em 1993, vim como professora concursada do Bacharelado em Comunicação – Habilitação Cinema, atualmente habilitação em Audiovisual. Devo muito à UnB e a sobrevivência do cinema na UnB também deve muito a mim e aos meus colegas. Fomos incansáveis nessa trincheira aí, da qual os estudantes são uma parte fundamental. Meu cinema é misturado com educação e especialmente com universidades: UFPI no Piauí e UnB em Brasília. Minhas equipes são compostas por ex-alunos. Meus temas, meus estudos, minhas pesquisas, eu os encontrei nas universidades ou ao redor delas. Foi assim e ainda é assim. Aposentei-me em novembro de 2018. Agora começo uma nova jornada e, curiosamente, tenho construído umas parcerias no Piauí. O filme “Carneiro de Ouro”, com o cineasta Dedé Rodrigues, é um exemplo disso. Agora estou pesquisando com Antonio Bispo dos Santos, quilombola da comunidade Saco-Curtume, na região de São João do Piauí. Queremos fazer um filme, uma “confluência”.

O trabalho do grupo Mel de Abelha tem a ver com cineclubismo? Qual a sua relação com o cineclubismo?

Já falei sobre isso. Acrescento apenas que tem um tipo de filme, como os que faço, por exemplo, que não têm muito apelo para o mercado exibidor hegemônico, mas tem um papel importante na construção da memória coletiva e do patrimônio cultural. Os cineclubes e universidades, as escolas em geral, as cinematecas, o fomento público, são importantes para que esse tipo de cinema continue a ser feito, discutido, preservado. O momento político atual é assustador nesse sentido: Ancine, Fundo Setorial do Audiovisual, Cinemateca Brasileira; estão em desmonte. O que posso dizer é que estamos juntos nessa briga aí e que tudo que está sendo destruído será reconstruído, assim espero. Não há autoritarismo que dure para sempre. Somos “ressurgentes”. Amanhã vai ser maior e melhor.

O seu trabalho e do grupo Mel de Abelha têm alguma relação com os filmes e artistas da CORCINA (Cooperativa dos Realizadores Cinematográficos Autônomos S.A) e ABD (Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas)?

CORCINA não. ABD sim. As ABDs construíram uma rede nacional que acolheu cineastas e cineclubistas do Brasil inteiro. A ABD/PI foi construída em 2003, com o incentivo de Leopoldo Nunes, então chefe de gabinete de Orlando Senna na Secretaria do Audiovisual do MinC, onde estava Gilberto Gil como Ministro da Cultura. Eu não participei desse processo. Já estava em Brasília. Valderi Duarte participou. Ele ainda reside em Teresina.

Ao assistir O pagode de Amarante eu percebi algumas ressonâncias com um conjunto de curtas documentários (ou etnográficos) realizados por Leon Hirszman (sobretudo Nelson Cavaquinho e Partido Alto). Sinto que os filmes conversam ao mesmo tempo que são completamente diferentes. Como foi essa relação com a criatividade ou expressividade popular? Existiu alguma interação com esses filmes que menciono quando vocês elaboraram este filme?

Não. Quando fizemos “O pagode de Amarante” eu ainda não conhecia esses filmes de Leon Hirszman. Depois que conheci, claro, notei que há uma proximidade etnográfica, temática e estética entre esses filmes de Leon e o nosso.

Aproveitando que mencionei O pagode de Amarante. Você poderia comentar sua relação com a fotografia? Pois algo que se destaca nesse filme são os momentos em que a câmera deambula no espaço quase que esboçando desenhos a partir dos telhados à contra luz. Acho essa cena muito bonita e me parece que você tem um apreço danado pela imagem em geral!

Sim. Não me canso de olhar e tentar enquadrar, decupar e montar o que o que me é dado ver, ouvir e sentir. E tem os sonhos. Realidades, sonhos, filmes, fotos, climas. É tudo junto e misturado. Daí, tenho que enquadrar, decupar e montar. Se filme fosse árvore, o cineasta com sua equipe, personagens e insumos seriam a terra, a água, o fogo e o ar. A semente seria a fotografia e a montagem seria o tempo que leva para a semente germinar e a árvore crescer, florescer e se multiplicar. Filme pede tempo e só dá as caras quando quer. Na Escola de Cinema e Televisão de San Antonio de los Baños/Cuba, minha área de interesse era a fotografia.

Sua obra me parece, em vários momentos, utilizar um método muito bem pensado de montagem – e com isso não quero dizer que a montagem de seus filmes são iguais. Como você trabalha a montagem em seus filmes?

Eu me entrego na captação. Para não ficar, na hora da gravação, olhando o monitor e conferindo o som com fone de ouvido. Conto ao técnico de som e ao diretor de fotografia o que busco naquela filmagem. O que busco, o que me move naquele contexto de gravação. Daí eu entrego, pra ficar atenta ao que ocorre no extracampo, no decorrer das gravações. Rapidamente abro mão do que planejei. Não sofro pelo take que não rolou, pelo personagem que não veio, pela chuva que chegou de repente. Celebro o que foi gravado e, sobretudo, se não foi previsto e veio como presente. Por isso gosto tanto de documentário. Fico ligada o tempo todo durante os períodos de captação, trabalho muito e a equipe trabalha muito. É um processo de imersão e as idéias-imagens chegam quando menos se espera. Na montagem, revisito o que veio da captação, geralmente com um assistente de fotografia ou de montagem. Gostaria de fazer esse visionamento com quem vai montar, mas não é possível. Geralmente tenho muito material e pouca grana. O visionamento é um momento mágico. É onde me pergunto: tem um filme aqui?

Que filme pode ser? Geralmente tem muitos filmes e escolho aquele que me toca mais, que me persegue e me desafia mais. Que está comigo o tempo inteiro: durmo e acordo pensando nele, levo ele pra fazer caminhadas comigo, levo para o boteco, apresento ele aos meus chegados e peço opinião. Daí faço uma pré-montagem tosca e chamo quem vai montar. Daí começa o entra e sai. Muita coisa fica, muita coisa sai, muita coisa entra. E, finalmente, o filme dá as caras. Feio e bonito não me dizem nada no processo de montagem. Da mesma forma a explicação. Filme não é para explicar. É pra tocar. Quem entendeu, entendeu, quem não entendeu…Muitas vezes na montagem desagrado a fotografia, destruo o “roteiro” e a pesquisa, desagrado “personagens”. Trabalhei muito com Waldir de Pina, diretor de fotografia de boa parte dos meus filmes feitos em Brasília. Ele costuma me dizer que o melhor de meus filmes fica no material bruto. Fica “na lata”, como se dizia quando se trabalhava em película. Pode ser. Depende do ponto de vista. Em Brasília, Waldir é talvez o cara que mais entende de cinema que eu conheço. E é muito solidário. Coloca seu trabalho, seus equipamentos, seus conhecimentos, a serviço de qualquer um que esteja fazendo verdadeiramente um filme e precisando de sua ajuda. Comigo foi assim. Comigo é assim. Salve Waldir de Pina.

Outro dia participei de um debate com o Adirley [Queirós] e ele disse algo que achei muito importante. Gostaria que você, se quiser, comentasse isso que ele disse…Estávamos falando como cada longa dele apresenta uma profecia, aponta para o futuro. Respondendo a isso ele mencionou que: “toda observação atenta da experiência na periferia é premonitória”. Lembrei disso que ele disse no final de Palestina do Norte. O medo de sua interlocutora dos militares voltarem foi premonitório. O que você acha dessa observação do Adirley Queirós?

Acho que ele tem razão. Não posso falar do processo dele, mas em meu processo, eu antevejo, de certa forma, o que vem politicamente depois do filme. A imersão no processo, as contradições que afloram, as conversas nos bastidores das filmagens; vão nos informando sobre o futuro próximo.

Tanto no decorrer do filme, quanto depois do filme pronto. No caso de “Ressurgentes” dava pra sentir que aquela geração de militantes estava fechando “uma jornada de lutas” e que ia partir pra outra. O que é natural e vale a pena. A militância os fez pessoas melhores. Tudo que o país precisa atualmente. No caso do Cadê Edson?”, com a prisão e um tanto de processos nas costas, além de uma conjuntura política extremamente adversa, dava pra ver que a militância de Edson Francisco da Silva e do MRP ia pegar outro rumo após o filme.

Se você fosse dar um título para essa entrevista, qual seria?

Tomo de empréstimo as palavras de Raimunda em “Palestina do Norte: o Araguaia passa por aqui”. Eu não sei. Tenho medo.

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Dácia (centro) e equipe durante as filmagens de “Carneiro de Ouro” (2017)

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